Hoje Portugal vive como sempre viveu. Em crise. Porém, a crise de hoje, segundo os especialistas está aliada a uma grave crise internacional. Esta situação fez tocar as campainhas no país, mas iremos certamente viver o mesmo que a nossa história recente ditou. Não será o FMI a vir salvar este cantinho na Europa, mas sim a União Europeia a vir dar uma mãozinha, e independentemente da cor política a governar, lá iremos cumprir as ordens externas e continuar no nosso caminho.
Portugal hoje não se pode fechar ao mundo. É neste contexto que é urgente passarmos da típica análise aos problemas que nos afectam, desde o défice, da dívida pública, da balança comercial desfavorável até aos típicos problemas do português de falta de planeamento, para novas soluções. O desenrascanço é, de facto, um traço luso. Mas, hoje Portugal vive num mundo global, somos apenas 10 milhões de portugueses, admito que podemos ser 11 milhões de portugueses, e como tal, para crescermos e gerarmos mais emprego, a internacionalização das nossas empresas torna-se urgente e premente. Ora, neste contexto, as empresas portuguesas necessitam de ir para o mercado externo, com algumas valências diferentes. É neste momento que surge a bandeira da inovação. Todos nós utilizamos a palavra inovação a toda a hora mas, na verdade, ela é apenas compreendida em parte ou utilizada de forma abusiva. A necessidade de apresentarmos ao mundo, em Portugal e em qualquer país um produto ou serviço diferente ou significativamente melhorado é a chave para um aumento do número de vendas e um crescimento da produtividade. As empresas devem encarar o futuro com um grau de especialização e de espírito sem aversão a mudanças, quer de modelos de negócio, quer de relações humanas. Deve existir um sentido de fomentar a inovação. Mas como? De facto, longe vão os tempos de que inovação era apenas e só uma ideia genial de um qualquer colaborador num determinado momento. Agora, os tempos são outros, o investimento em inovação carece de um processo claro de gestão de inovação. É um conceito que deve começar a entrar nas empresas portuguesas, quer sejam micro, nano, pequenas, médias ou grandes. Todos, sem excepção devem começar a fazer um esforço de gerir a inovação tanto intra-muros, como extra-muros através de vigilância ou acompanhamento dos mercados onde operam.
A inovação começa nos locais de trabalho, nas metodologias utilizadas e na sensibilização de todos para participarem com ideias, sugestões e opiniões. Do funcionário da fábrica ao CEO, do responsável de vendas ao Director Financeiro, é inegável que uma melhoria, uma nova ideia ou uma pequena alteração pode estar bem presente e permitir apresentar ao mercado global novas soluções de negócio. Deve, porém, existir um espírito claro: não reinventar a roda. Este é um erro, que muitas empresas, organizações e associações promovem. Fazer em duplicado só para mostrar serviço, só atrasa, só piora. Bem sei que hoje o mercado é competitivo. Mas cooperar, por vezes, pode ser bem mais rentável do que apenas competir por imitação ou seguidismo. É urgente a criação de uma cultura de inovação em Portugal. Essa cultura necessita de rigor, planeamento, coordenação. A comunicação interna como referi anteriormente é fundamental para a possibilidade inovar, mas deve ser acompanhada do envolvimento dos clientes das empresas e dos fornecedores. Inovação deve fazer parte das preocupações das administrações, da gestão de topo, deve ser claramente incentivada internamente.
Portugal precisa de uma sociedade civil forte. De empresas pujantes e com capacidade de crescimento acima da média. Não será na quantidade que iremos concorrer com os produtos/serviços de outros países, tem e só pode ser através da qualidade e de factores diferenciados. Não é ao Estado que compete salvar todas as empresas, o Estado deve ter aqui um papel de incentivar, deve apoiar de forma a dar asas e não subsidiar e garantir tudo a todos. O papel do Estado na Inovação do País deve ser feito internamente e nas estruturas da função pública, a torná-las menos burocráticas e mais eficientes. Neste caso é importante referir que o Plano Tecnológico tem dado alguns passos positivos nesse sentido. Mas não chega. É preciso mais e ir mais além. É preciso criar um espírito de inovação, de apelo à criatividade dos portugueses. Esse espírito poderá ser uma boa forma de aparecimento de empreendedores. Aproveitar o típico desenrascanço luso e introduzir planeamento e rigor só pode tornar Portugal um país competitivo e capaz de criar emprego e uma vida mais benéfica a quem mora neste país. Exemplos de sucesso em Portugal existem, exemplos de sucesso de portugueses na Diáspora existem, agora é tempo de Portugal ser um exemplo de sucesso e não apenas de casos isolados de sucesso.