Quando é que o PSD larga o "SD" e passa a ter "LD" ou um "LC"?
Quando é que o PSD larga o "SD" e passa a ter "LD" ou um "LC"?
Prosseguindo com a maratona de reflexões produzidas ao sabor de uma cidade enregelada, embrulhada numa temperatura amena de dezenas de graus negativos, eis o segundo episódio, retirado dos baús do disco rígido:
"Um político deve ser medido de várias formas, e uma delas deve ser a forma como fala ao povo: a sua genuidade, a sua sinceridade. E que sinceridade podemos nós encontrar num discurso previamente estruturado por uma data de assessores, cujo único objectivo é apenas, agradar? Dificilmente encontramos alguma sinceridade por detrás daquelas palavras, tão só por esta razão: porque não é genuíno. Não se deve rejeitar a opinião de que um discurso bem estruturado é uma poderosa arma de convencimento junto do povo, quanto a uma medida ou a um rumo; mas o que se deve rejeitar é que esse mesmo discurso seja estruturado até certo ponto em que o seu único objectivo seja manipular os seus ouvintes num determinado sentido, retirando qualquer genuidade ao discurso. Porque, assim parece, deve ser colocada uma questão, que se pretende pertinente – onde se encontra mais sinceridade: num discurso previamente preparado ou num discurso de capela?
Por vezes, consegue-se assistir a um fenómeno que faz espécie, por ser estranho. Uma aversão às palavras, uma aversão à utilização sincera das palavras. Não se usa porque não é “politicamente correcto”. Politicamente correcto? Por respeito ou por medo de usar a verdadeira palavra, que verdadeiramente exprime o verdadeiro sentido do pensamento? Muitas das vezes, parece que é a segunda hipótese, tão só porque, mais tarde, esse mesmo político acaba por dizer o oposto do que tinha dito da primeira vez. E isto também se passa nos tais discursos estruturados ao milímetro: através da escolha premeditada de palavras, sujeita-se a que as verdadeiras palavras sejam postas de parte e outras, mais suaves e mais “politicamente correctas” sejam escolhidas, desvirtuando a sinceridade da mensagem que se pretende transmitir.
(...)
Por vezes, pensar torna-se um acto irreflectido e inesperado e falar ao mesmo tempo o que se pensa, ali no momento, o discurso torna-se automaticamente genuíno. A escolha das palavras é automática porque tem que ser feita no segundo; as palavras são sinceras porque são a expressão do pensamento do momento; a genuidade surge e fica porque o político tem que dizer aquilo que realmente pensa, não poupa nas palavras – naquelas que deve usar, como expressão perfeita do seu raciocínio. Um político que seja capaz de se expressar bem quando pressionado por microfones ou por uma plateia adversa, que seja capaz de impôr as suas ideias – as suas palavras, reveladoras unicamente do seu pensamento e daquilo que realmente pretende – então será um político genuíno e sincero.
(...)
porque é extremamente complicado conseguir vingar num país onde a sinceridade, assim parece, é mal vista ou mal encarada. Mas a grande maior parte das vezes, mal compreendida exactamente porque é mal explicada; exactamente porque não houve uma prévia preparação da melhor maneira de falar sobre ou, então, um estudo mínimo do tema. Mais, não só um estudo mínimo do tema para o que o político seja capaz de albergar as várias pontas soltas, como também deve ser capaz de destruir os argumentos do adversário. E essa destruição, que se quer positiva e construtiva, deve ter em conta aquilo que o nosso adversário na arena política defende.(...)
O que se pretende dizer é que um político, qualquer que ele seja, só é capaz de ganhar as batalhas políticas se for: sincero nas palavras que usa, como expressão genuína do seu pensamento; se se conhecer a si próprio, e esse conhecimento apenas poder advir da sua capacidade de pensamento próprio, de reflexão e estudo sobre os temas numa constante aprendizagem, e numa expressão sincera através de palavras; se conhecer o seu adversário, as suas propostas – virtudes e defeitos - , expondo os defeitos e as consequências dos mesmos.
No fundo, pensar pode por vezes ser um acto irreflectido que se exterioriza em palavras que o nosso sub-consciente, ou se se preferir, inconsciente escolhe no momento, aqueles segundos em que é interpelado e tem que pensar sobre o assunto, sobre aquilo que previamente já sabe. E a política, o discurso político, deve ser uma das maiores expressões de genuidade e de sinceridade do homem político. É absolutamente necessário conseguir recuperar a credibilidade da política, e isso deve ser feita através da adopção de um outro modelo de discurso. Não aquele planeado e escrito por uma data de assessores; mas sim aquele feito no momento, com sinceridade e sem medo de escolher as palavras certas. Escolha essa que não é feita por nós, mas sim de forma automática e inconsciente pelo nosso cérebro: ai está o porquê de ser tão genuíno, porque nós não o controlamos racionalmente. Porque ficamos sujeitos ao erro, e a sujeição ao erro é elemento indispensável da busca da sinceridade e da genuidade. Se se tem medo de errar, então recorre-se a discursos escritos por assessores, com todas aquelas lindas e espectaculares frases pomposas. Se não se tem medo de errar, sabendo-se de antemão que o erro faz parte das nossas vidas, então não se tem medo de ir para uma arena adversa e esgrimirmos os nossos melhores argumentos para convencermos aqueles espectadores que nos olham com desconfiança e desprezo"
Como sempre, correndo o risco de ser utópico ou politicamente incorrecto, mais uma reflexão nocturna para os estimados leitores...
O que se pode pedir num primeiro post? Pois bem, parece-me útil repescar um velho pensamento feito numa noite enregelada de uma cidade coberta de neve, num país acolhedor com bons aquecedores no quarto e passo-me a citar a mim próprio...
"Aquilo a que se chama uma “redefinição ideológica” pode, por vezes, parecer a discussão sobre o sexo dos anjos. Especialmente quando se pensa em tal assunto num país anteriormente soviético onde o frio impera; e especialmente quando, com essa expressão, se pode tentar visar um projecto pessoal de poder pelo poder. A tal “redefinição ideológica” por vezes deve ser vista como um objectivo comum de uma associação de indivíduos que tenta frisar e atingir o seu objectivo comum: num partido, conquistar o poder e servir a comunidade de forma eficiente e prestável. Mas para que isso seja possível é preciso que esse grupo de homens e mulheres tenha pensamentos estruturados e comuns; ideias que façam sentido e que acreditem de alma e coração; planos que sejam possíveis de ser estruturados no momento específico em que aparecem, mas sempre com a noção de que, por vezes e devido à situação do caso concreto, têm que ser adiados ou reestruturados. Quando se atinge o caos desordenado e onde se zangam as comadres; onde o líder de cada feudo apenas olha pelo seu pequeno castelo e arrigementa os seus homens para tentar conquistar o castelo maior em cima da colina; a “redefinição ideológica” deve servir para encarreirar de novo o grupo na direcção de que nunca deveria ter saído, através do surgimento de uma nova geração de líderes que, naturalmente, trarão consigo novas ideias. Ideias essas que devem ser adaptadas ao tempo em que são apresentadas, sempre com o pensamento e o bom senso de não serem imutáveis por mera teimosia pessoal.
Diz o povo, “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”. Por vezes o povo tem razão, noutras parcialmente razão, mas raramente lhe falta a razão. Quando se funda algo num contexto ideológico extremamente definido e marcado por correntes anti qualquer coisa; obviamente, por faro e bom senso, querendo que esse algo fundado sobreviva, então temos que nos adaptar a esse tempo. Essa adaptação não quer significar de modo automático a traição às ideias que presidiram à fundação de um projecto; tão só evidenciam a inteligência de quem consegue sobreviver num ambiente hostil. Quando esse projecto encontra base para prosperar e adquirir poder, o mais normal na natureza humana, é recostar-se no sofá, à sombra, e deliciar-se com as vantagens de ter o poder. E ao mesmo tempo esquece-se de que o tempo corre de forma invisível e com ele, vão desaparecendo aos poucos a utilidade das ideias que presidiram ao poder.
Quando essa aura de vencedor desaparece e se instala o vazio, o pior que pode acontecer é que esse vazio signifique a divisão em feudos dentro desse projecto. Divisão essa que adensa o vazio e que amarra a vida interna numa espécie de espectáculo romano onde os gladiadores se degladiam à procura do prémio supremo: o poder, de agradar, de se libertarem, de seguirem a sua vida e um dia poderem, quiçá, ter o verdadeiro poder, alicercados numa força seguidora de autómatos cegos que cobiçam os despojos e os lugares livres conquistados.
A tal “redefinição ideológica” não mais é do que um encarrilamento necessário e indispensável, de algo que há muito anda completamente perdido por entre curvas e contra curvas; de guerrilhas feudais sem ponta de interesse, em que a cada estoucada o partido morre aos poucos.
Vilnius
2009-10-21
22h58"
1ª parte de uma reflexão mais profunda que terá os seus próximos episódios num futuro não longínquo desta data... E já agora, um muito obrigado ao Guilherme por me ter convidado a escrever neste espaço!
Agora que a o PSD enfrenta o desafio da campanha eleitoral para as Autarquias Locais, muitos jovens quadros preparam-se para exercer um cargo no poder local – alguns pela primeira vez, outros numa nova posição.
O orgulho e a responsabilidade que esta situação impõe, trazem com eles sentimentos de antecipação e ansiedade sobre o carácter do trabalho, não só como autarca – o representante que está mais próximo do seu eleitorado no regime democrático português – mas como jovem autarca, como porta-voz da juventude para este fórum de poder local.
Vários são os desafios que se impõem a estes jovens. Começar a trabalhar num ambiente onde a generalidade das pessoas não só é mais velha mas, acima de tudo, tem mais experiência do que ele e habituar-se a padrões e processos de funcionamento novos (e nem sempre intuitivos) são geralmente os principais.
A verdade é que se aplica a frase feita de que os desafios são oportunidades. Antes de mais, a chegada de uma perspectiva fresca a um órgão político pode ser uma grande vantagem, precisamente por contribuir com um olhar não formatado por anos de discussões dentro de certos trâmites. Mas a novidade pela novidade pode ser um pecado ainda maior. Uma nova perspectiva e uma nova forma de actuar, padrões pelos quais a JSD sempre se pautou especialmente - e pelos quais os seus melhores quadros são conhecidos (e reconhecidos) – exigem sobretudo seriedade, responsabilidade e determinação – outros três padrões que sempre acompanharam os membros da JSD no exercício das suas funções.
No âmbito específico do trabalho autárquico, isto implica que o jovem autarca deve não só conhecer bem as questões relativas à sua autarquia, mas também reflectir sobre elas, sobre as possíveis soluções, e sobre novas formas de as abordar e resolver. Implica que o jovem autarca deve contribuir construtivamente em todas as fases do processo político, desde o planeamento à implementação, dando simultaneamente ouvidos à sua irreverência e à experiência de outros.
Afinal, é nesse equilíbrio que está a mais valia do jovem da JSD: onde a experiência e conhecimento de caminhos trilhados se encontra com a irreverência e determinação dos caminhos por traçar.
A todos os candidatos, muito boa sorte.
(Texto elaborado por José Pedro Salgado, Presidente de Mesa da JSD/B e membro da Assembleia de Freguesia de Alvalade)