Na sequência dos últimos debates televisivos e da invasão de propostas políticas a que temos assistido, deparei-me com uma situação controversa e que me chamou logo a atenção - Obras Públicas e, em particular, o TGV.
Muito se tem falado, pouco se tem esclarecido e muitas pessoas continuam sem perceber se será ou não benéfico fazer investimentos como estes, dada a insustentável situação em que se encontra a nossa dívida pública, ano após ano.
Antes de mais, julgo ser necessário, para entender este imbróglio de palavras trocadas entre os líderes partidários, definir correctamente um conceito essencial – Investimento. Ora, investir, genericamente, é evitar algum consumo imediato e aplicar os bens assim poupados numa actividade económica, com o fim de aumentar a riqueza. Investir não é criar emprego, senão subsidiariamente.
Acontece que os socialistas têm vindo a dizer, insistentemente, que investir no TGV é necessário, primeiro, porque vai empregar muita gente e, em segundo lugar, porque nos vai resolver o problema da nossa periferia, ligando-nos à Europa.
No entanto, já sabemos que investir não tem por finalidade primeira criar emprego, mas sim riqueza, e ninguém conseguiu, até agora, provar que o TGV vai criar riqueza neste País. Portanto, se o TGV não é rentável, a enorme dívida que vamos assumir para o construir, vai ser paga com quê?
Quanto à questão da periferia, temos de sugerir aos que dizem que temos esse problema que abram os olhos e vejam o “mapamundi”, para poderem responder à seguinte questão: quantos países existem no mundo que estão no centro geométrico de quatro continentes e têm uma zona económica marítima dez vezes a área do seu território?
Resposta: além de Portugal, não conheço mais nenhum! Portugal, por via marítima, e graças ao Oceano Atlântico onde sempre se sentiu “em casa”, pode chegar à Europa, à África, à América do Sul e do Norte. E, sem grande esforço adicional, está na Àsia.
Periferia? Que cegueira…
Para justificar o investimento em Obras Públicas, Sócrates disse, e bem: “ as obras públicas, foram uma arma essencial para os EUA ultrapassarem a Grande Depressão dos anos 30”. É verdade, historicamente foi assim. Mas Sócrates parece esquecer-se de um “pequeno” detalhe, que faz toda a diferença: é que, nos EUA, naquela época, quando se construía uma auto-estrada, não só se aumentava de imediato o emprego como, de seguida, os americanos iam comprar carros à General Motors, ou à Ford, e camiões à Chrysler, gerando valor para a indústria automóvel americana. Depois, usavam as auto-estradas para baixar o preço dos transportes de longo curso, aumentando de imediato o tráfego de mercadorias e o comércio entre Estados. Por isso, esse investimento em infra-estruturas públicas gerou, de facto, muita riqueza e estimulou toda a economia dos Estados Unidos.
Ora nada disso vai acontecer aqui, porque o Português, coitado, depois de, na maior das alegrias, construir as tais estradas ou, neste caso, o TGV, acaba a comprar carros à Alemanha, ou à França, ou a ir buscar leite de refugo à Europa, enquanto os nossos produtores empobrecem com a baixa de preços! Em resumo, ficamos endividados com as obras públicas, mas o dinheiro distribuído durante a sua construção só servirá para criar riqueza nos parceiros europeus, enquanto foram eles a produzir a maioria dos bens que consumimos, e não tivermos nada para lhes vender em troca!
Vamos investir, pois, mas para criar riqueza!
Inevitavelmente, bom investimento estimulará a actividade económica, e acabará gerando emprego sustentável. Claro que, para investir assim, é preciso saber como se cria riqueza – e aí sim, é que está o nosso verdadeiro problema.
Primeiro, em Portugal existem preconceitos esquerdistas contra as empresas, os empresários, o lucro, que afastam da nossa cultura, dos nossos hábitos e dos nossos sonhos o paradigma base da economia livre e capitalista: a iniciativa de cada um, o trabalho árduo, a poupança, o investimento, a empresa, o lucro. Afastam, também, os mais capazes e os mais audaciosos, que são atraídos para os Países onde as oportunidades existem.
Em segundo lugar, numa economia mundial aberta e concorrencial, criar riqueza pressupõe fazer coisas melhores que as já existentes, para conquistar mercado. Não basta o velho planeamento das “sociedades socialistas”, que ruíram economicamente com a queda do Muro. E quando ouvimos o secretário-geral do Partido Comunista falar em investimento como “fortalecimento do aparelho produtivo”, sabemos que esta a falar do velho “planeamento”, do investimento público decidido nos gabinetes da política partidária, dos políticos “determinados”, como Sócrates…
Parece que não aprendemos nada com as desgraças e os falhanços do século XX.
(Texto elaborado por Miguel Botelho, vogal da CPS - Secção B)